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“Paris reduziu brutalmente o estacionamento à superfície nos últimos anos. O que mais temos por cá é ‘vamos criar mais estacionamento’”

Podcast: Mobi Boom com Rosa Félix

Entrevista para o podcast Mobi Boom Luís Costa Branco

Lisboa continua a privilegiar o automóvel, apesar das metas europeias e dos exemplos internacionais de cidades mais sustentáveis. No Mobi Boom, Rosa Félix, especialista em mobilidade suave, defende que a capital precisa de uma estratégia clara para promover o uso de bicicletas. “Se queremos metas ambiciosas para a bicicleta, é preciso fazer muito mais do que está a ser feito.” Oiça aqui o novo episódio do podcast do Expresso

Lisboa continua a ser uma cidade dominada pelo automóvel, apesar dos esforços para promover modos de transporte mais sustentáveis. Rosa Félix, professora e investigadora no Técnico, alerta para o aumento do uso do carro nos últimos anos e para o impacto negativo na autonomia das crianças: “Em Lisboa, o que temos assistido é um aumento da utilização do automóvel desde pelo menos há 10 anos. E uma diminuição das pessoas que andam a pé, principalmente para levar as crianças à escola. Cerca de 50% dos alunos da escola primária chegam de automóvel à escola. Isso tem implicações muito graves, não só para o desenvolvimento das crianças como também para a dependência do automóvel, no dia-a-dia, em todas as viagens que faz”.

A falta de investimento em infraestrutura segura para bicicletas e peões é um dos principais obstáculos. “Não basta criar ciclovias ou zonas pedonais; é preciso limitar o uso do automóvel e definir prioridades claras”, defende Rosa Félix. A investigadora e especialista em mobilidade urbana é reconhecida pelo trabalho em políticas de mobilidade ativa, consultoria para municípios e promoção da bicicleta como meio de transporte.

O exemplo de cidades como Paris, que reduziram lugares de estacionamento à superfície, mostra que é possível inverter a tendência.

Apesar de algum progresso, como o aumento de utilizadores de bicicleta graças aos sistemas de partilha, a cobertura destes serviços ainda é insuficiente e concentrada no centro. “Sem condições de segurança e estacionamento, não se consegue mudar hábitos”, sublinha a investigadora.

A pressão para criar mais parques de estacionamento gratuito revela que o automóvel continua a ser privilegiado nas decisões políticas. “É preciso investir em ciclovias segregadas, estacionamento seguro e melhorar os transportes públicos. Só assim Lisboa poderá dar o salto para uma mobilidade mais humana e sustentável”, afirma Rosa Félix.

Lisboa tem metas ambiciosas para a utilização da bicicleta, mas o ritmo de mudança está longe de ser suficiente. “Se queremos chegar a 4% de utilização de bicicleta em 2025 e 10% em 2030, há muito por fazer”, alerta Rosa Félix.

De resto, Portugal está bastante atrasado no cumprimento das metas para 2025 da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável (ENMAC). O objetivo era atingir 3% de viagens em bicicleta a nível nacional e 4% nas cidades, além de construir 5 mil km de ciclovias até ao final de 2025.

Os dados mais recentes mostram que o país está muito longe de alcançar o objetivo.

Para a convidada do terceiro episódio do Mobi Boom, Portugal e Lisboa precisam de uma estratégia clara, com prioridades bem definidas e metas realistas.

Publicado originalmente em https://expresso.pt/podcasts/mobi-boom/2025-10-26-paris-reduziu-brutalmente-o-estacionamento-a-superficie-nos-ultimos-anos.-o-que-mais-temos-por-ca-e-vamos-criar-mais-estacionamento-27e91698 e em https://sicnoticias.pt/podcasts/mobi-boom/2025-10-26-nos-ultimos-anos-bruxelas-fechou-o-centro-da-cidade-ao-automovel-e-aumentaram-muito-as-pessoas-a-pe.-em-liubliana-foi-o-mesmo-b8f3187d a 26 Outubro 2025.