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Utilização da bicicleta cresceu 25% em 2020 e há mais mulheres a pedalar em Lisboa

Artigo explora os dados do relatório produzido pelo U-Shift – CERIS, IST sobre as contagens de ciclistas em Lisboa.

Publicado em lisboaparapessoas.pt/2021/01/21/contagens-ciclistas-2020 a 21 de Janeiro 2021. Por Mário Rui André.

Fotografia cortesia de Catarina Lopes

O relatório anual que o Instituto Superior Técnico realiza para a Câmara Municipal de Lisboa, avaliando a evolução da utilização da bicicleta na cidade, indica um crescimento de 25% no número de ciclistas entre 2019 e 2020 e que há mais mulheres a pedalar – hoje, com uma proporção global de 26%. Há também mais bicicletas próprias (+8% que no ano anterior), sendo que 17,5% das bicicletas particulares são agora eléctricas (eram 5% em 2018).

Distribuição espacial da proporção de ciclistas do género feminino para Maio e Outubro de 2020

Estas são apenas algumas das conclusões do relatório, ao qual o Lisboa Para Pessoas teve acesso. O estudo, assinado pelos investigadores Filipe Moura, Rosa Félix e Ana Filipa Reis, consistiu na contagem e observação do comportamento de utilizadores de bicicletas e trotinetas na cidade de Lisboa, em diferentes pontos. “O trabalho consiste na observação de ciclistas, trotinetistas, dos seus movimentos, características e seus veículos, em diferentes pontos de observação na cidade de Lisboa e em períodos de hora de ponta da manhã, do almoço e da tarde”, lê-se no relatório sobre a metodologia.

Localização dos pontos de observação em relação à rede ciclável existente e planeada

“As observações de ciclistas não têm ocorrido na cidade de Lisboa de forma contínua e sistemática, à exceção da recolha de fluxos através de um contador automático instalado na Av. Duque d’Ávila. Uma observação mais fina, com registo das várias características relevantes do ciclista ou trotinetista, da viagem e do seu veículo – informações não capturadas por contadores automáticos – permite à autarquia melhor conhecer os utilizadores das infraestruturas cicláveis e melhor planear futuros investimentos que respondam às reais necessidades e garantam uma circulação com maior segurança para os ciclistas e os trotinetistas.”

As contagens decorreram em dois períodos: de 25 a 29 de Maio e de 6 a 19 e 23 de Outubro. Foram realizadas por uma equipa de cinco observadores, experientes na utilização da bicicleta, no primeiro período e de 14 no segundo período de contagem, que envolveu 66 pontos de observação diferentes. As observações foram realizadas tanto em zonas onde já existe infraestrutura ciclável como em locais onde esta está prevista.

Volumes de bicicletas e trotinetas, por zona e por anos

O relatório, disponível para download neste artigo, destaca ainda, entre as principais conclusões, um crescimento de 140% no volume de ciclistas na Avenida Almirante Reis após a introdução da ciclovia pop-up, que cerca de 5% dos ciclistas são estafetas, mais do que duplicando em relação ao ano anterior, e que a utilização de trotinetas decresceu 35% em relação a 2019.

Distribuição espacial dos ciclistas em modo trabalho (estafetas), em percentagem

Mais há mais uma série de dados interessantes:

  • “Em Maio de 2020, os ciclistas que circulavam sem capacete representavam cerca de dois terços do total. Em Outubro de 2020, o uso do capacete por parte dos ciclistas aumentou em 24% em relação a Maio de 2020 (crescimento das percentagens e não dos valores absolutos), podendo revelar o surgimento de mais ciclistas com menos experiência e que procuram proteger-se com um capacete.”
Distribuição espacial da proporção de ciclistas observados com capacete
  • “De um modo geral, verificou-se que os ciclistas praticamente não circulam no passeio quando em presença de ciclovia. Ainda assim existem locais em que mais de 40% dos ciclistas circulam pelo passeio em vez de circular pela rodovia ou infraestrutura ciclável. No caso das zonas de coexistência, em particular na Av. Liberdade, a preferência pelo passeio poderá estar relacionada pela leitura confusa do sistema de circulação daquela artéria como pelo mau estado do pavimento, em paralelo com a existência de passeios largos nas plataformas centrais com pouco tráfego pedonal.”
Distribuição espacial da proporção de ciclistas a circular no passeio
  • “De 2017 para 2019, a proporção de bicicletas com cadeiras de criança ou atrelados mais do que duplicou, passando de 2,7% para os 6,2% atuais. (…) No entanto, em Outubro, o uso de cadeiras ou atrelados decresceu, representando 3% do total dos ciclistas. Mesmo somando as bicicletas de carga, para ser comparável com os anos anteriores, a utilização de cadeiras de criança representa 4%.”
Distribuição espacial da proporção de ciclistas com cadeiras de criança ou atrelado

O documento aponta alguns dados muito interessantes sobre a Avenida Almirante Reis, onde no ano passado foi instalada uma ciclovia pop-up que, desde então, alguma polémica gerou. “Entre Maio de 2019 e Outubro de 2020, o volume de ciclistas cresceu de 30 para 70 ciclistas em média por hora no cruzamento com a Rua dos Anjos, e de 31 para 80 no cruzamento com a Pascoal de Melo, considerando ambos os períodos do dia”, lê-se no relatório, que destaca ainda a Rua Pascoal de Melo como uma ligação preferida pelos ciclistas ao Eixo Central. “Nota-se um salto no volume médio de ciclistas entre as campanhas pré e pós-ciclovia, o que demonstra que a intervenção realizada atraiu mais ciclistas para este eixo.”

Volume médio de ciclistas por hora, em cada campanha, nos dois locais observados da Av. Almirante Reis. Os tons de amarelo referem-se ao período pré-ciclovia, e os tons de verde ao período pós-ciclovia.